Internado em estado de coma induzido em Itabuna (HCMF)/Santa Casa de Misericórdia desde o dia 28 de dezembro/2010, quando sofreu uma tentativa de homicídio no interior de sua residência, localizada no interior do Ginásio Agro Industrial, o artista plástico, pedreiro, pintor e escultor Júlio de Souza Barbosa (São Félix), 83 anos, não resistiu aos graves ferimentos e veio a óbito na noite deste domingo, 16/01, por volta das 07:30h aproximadamente, segundo “Barbosa”, filho da vítima que o acompanhava durante toda a trajetória.
São Félix foi encontrado inconsciente e bastante ensangüentado no interior do seu quarto na casinha onde morava, que a tratava de “O Refúgio do Artista”, localizada no interior do Ginásio Agro Industrial, unidade escolar que ajudou a construir.
Júlio de Souza Barbosa (São Félix), 83 anos, foi vítima da ação de marginais sanguinários, desalmados, que utilizando uma enorme pedra pontiaguda e um facão de 18 polegadas desferiram diversos golpes na cabeça da vítima, que não teve chance de se defender por uma série de razões: “estava dormindo ou deitado descansando, idade avançada, porte físico frágil dado a idade e, jamais imaginou que um dia fosse se deparar com tal violência”, um homem que só semeou o bem, plantou as melhores sementes e contribuiu tanto com a história do município.
Júlio de Souza Barbosa, São Felix, 83 anos, reuniu todas as forças e lutou bravamente a favor da vida até o último momento. Na última quinta-feira, 14/01, o Cabo Barbosa, filho do artista, direto de Itabuna concedeu entrevista ao “Programa Chicote do Povo” da Rádio Jornal AM, bastante emocionado, falando da alegria de ver seu pai mover os olhos e uma das mãos, mesmo que por pouco tempo. O quadro de São Félix se agravou muito nos últimos dias e na manhã de domingo, 16/01, teve morte cerebral, vindo a óbito às 19:38h.
O Cabo Barbosa está arrasado juntamente com os demais irmãos, pois ainda tinha esperança de poder falar com seu pai, de trazê-lo de volta a Itapetinga são e salvo, mesmo reconhecendo que o quadro dele era muito grave.
Breve Biografia:
Júlio de Souza Barbosa, nasceu no dia 21 de março de 1927, na cidade de São Félix, o que lhe deu o famoso apelido, tão logo chegou a Itatinga. Filho de pais separados, ele foi criado pela a mãe, na cidade de São Félix.
Seu pai, o também pedreiro Juvino Barbosa, residia no povoado de Itatinga, onde era proprietário de uma “venda” (mercearia) e já era conhecido e gozava de boas amizades no povoado.
Um caminhoneiro itatinguense, conhecido por Emérito Costa, fazia freqüentes viagens para o estado de Sergipe e sempre passava pela região do recôncavo baiano, transportando couro e, a pedido do amigo Juvino, procurou, em São Félix, por um rapaz chamado “Júlio”, que trabalhava na Fábrica de Charutos.
Ao localizar o jovem Júlio, este em meia hora se despediu da família e partiu na carroceria do velho e conhecido caminhão “Céu Azul”, de Emérito Costa, pois o rapaz guardava em seu coração um forte desejo de conhecer seu genitor.
Júlio chegou em Itapetinga no dia 22 de abril de 1945, com apenas 17 anos de idade. Ao descer do caminhão, na hospedagem de Manoel Curtidor, Júlio esperou a chegada do seu pai, que já entrou no estabelecimento perguntando: “quem é meu filho aqui?”
Juvino Barbosa morava próximo ao centro da cidade, na região de baixo meretrício, conhecido por “Cavaco”. Júlio, depois de oito (08) dias, saiu para conhecer a cidade. Ele era um exímio jogador de futebol e começou a se enturmar com os jovens de Itapetinga nos babas que aconteciam nos poucos campinhos do povoado.
Sendo convocado para o baba da quarta-feira seguinte, que escalaria o time para uma partida de futebol onde estariam se enfrentando as equipes de Itarantim e da Palestina Baiana (hoje Ibicarai), Júlio não teve a permissão de seu pai para participar desse jogo, pois o velho queria que ele tomasse conta da venda.
Depois de muita insistência e do pedido do Sr. Propércio Botelho, que era muito amigo do velho Juvino, esse permitiu que Júlio participasse do jogo que aconteceu no “estádio” de Itapetinga, nos fundos da Matinha, exatamente no local onde hoje existe o bairro Vila Rosa.
Quando saiu a relação com os nomes dos jogadores que estariam sendo titulares desse jogo, a mesma foi colocada em uma placa em frente ao Bar Atlântico, no local onde hoje está situado o Edifício Juvino Oliveira, e estava assim definida: Davinho, Estáquio, Zelito, Dadá, Zoinho, Zé Leandro, Dimas, Nô, um ponto de interrogação (?), Sandro e Nem.
Esse ponto de interrogação que constava daquela relação dos titulares era porque ninguém sabia o nome de Júlio Barbosa. Em seguida substituíram esse ponto de interrogação pelo nome de São Félix, quando souberam que o garoto era daquela cidade. O apelido pegou e até hoje todos o conhecem por São Félix.
Desde que chegou a Itapetinga São Félix tem marcado sua estada nesta terra com seu trabalho, seja como pedreiro, escultor, pintor ou simplesmente como o artista São Félix. Suas obras estão espalhadas por todos os cantos da cidade e tem no Parque Zoobotânico da Matinha o seu maior acervo. Várias praças da cidade, a exemplo da Rótula dos Pioneiros e vários colégios também têm a sua marca.
Recentemente (12/12/2010), São Félix participou da cerimônia de Reinauguração da Praça dos Pioneiros, pois ele como artista foi o responsável pela revitalização dos monumentos ali instalados, participou também da reinauguração do Museu de Artes de Itapetinga.
São Félix adquiriu um amor imenso por Itapetinga, ao ponto de escrever e registrar a seguinte frase: “Itapetinga, ainda que o destino nos separe, serei aquele que um dia te embelezou